Uma mãe e seu filho em uma
estação de trem. Eles despedem-se. Notas de um piano triste enlevam a paisagem;
o que se vê não é o lado de fora da janela, tampouco o que ficou para trás, mas
sim as feições do garoto desolado pela separação. Vemo-lo, aprisionado atrás do
vidro, observando tristemente. É uma partida. Mãos dizem adeus, mas as bocas calam-se. Os olhos
se enchem. O coração aperta. É uma despedida cruel, inevitável como a guerra
que estava por emergir.
No colégio interno para o qual o
garoto é mandado temos uma visão clara do desenvolvimento psicológico dele e de
alguns outros alunos. A guerra, particularmente, não fez tormenta ali no internato
rico. É, antes, na verdade um grande subterfúgio para justificar certos eventos
que se passarão adiante no filme.
Ora, o que nos comove não é o que
há de geral, mas sim apreciar o prosaico em cena, os hábitos detalhadamente,
seus deveres na sala, as conversas de garotos, o cotidiano, seus pequenos
gigantes dilemas (pequeno, sempre, para quem não sofre), enfim, seus
desenvolvimentos. Mas, diante dos fatos e eventos, o que se dá? Um amadurecimento
ou embrutecimento? Poder-se-ia, sem sombra de dúvidas, defender uma certa filosofia
de Jean Jacques Rousseau. Quer queira, quer não, há uma corrupção,
evidentemente. E o garoto que entra desamparado no trem já não é o mesmo ao
cabo.
Penso ser impossível que um
roteirista atinja tamanha perspicácia no fluxo dos diálogos e acontecimentos
dos meninos; porque tudo nesse universo das falas e feitos é absolutamente
realista, fazendo-nos imergir na história e – se uma mosca nos distrair –
passamos imediatamente a crer que tudo aquilo ali está de fato acontecendo em
tempo real. É, portanto, inegável o caráter autobiográfico do filme, arrisco-me
sem medo, a dizer que cada bilhete repassado, cada conta de álgebra, cada árdua
tarefa e ave Maria rezada foram REALMENTE realizadas no pretérito do diretor.
E o louvor do diretor Louis Malle está, em primeiro
lugar, em rememorar obsessivamente a infância. Se há delicadeza ou
sensibilidade na história, certamente não é pelas técnicas visuais ou
narrativas, por closes brilhantes nas faces ou músicas grandiloquentes, mas pela
própria história em si mesma, que é aquilo mesmo que é. E por isso é bela. E é
arte.
3 comentários:
lindo o texto, lindo o filme AMEI!
Me deu curiosidade de ver esse
Texto interessantíssimo. Tal qual o filme.
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