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Amargo Pesadelo (1972)

"Amargo pesadelo”. Apesar de não ser uma tradução literal, não deixa de ser um justo título para esse filme em nossa língua. Disparadam...

"Amargo pesadelo”. Apesar de não ser uma tradução literal, não deixa de ser um justo título para esse filme em nossa língua. Disparadamente o melhor filme que eu assisti de John Boorman e um dos melhores filmes da década de 70.

De início a câmara enquadra os quatro protagonistas de longe, procurando-os dentro da paisagem, de certa forma mostrando a pequenez do ser humano diante da natureza (“Tudo é perfeito em saindo da natureza, tudo degenera nas mãos do homem”, diz Rousseau no seu “Emílio”). Essa distância entre a paisagem e o homem, é acrescida de um mal-estar que é acentuado quando ela se fecha paulatinamente nos quatro, sem pressa, acentuando assim, também a distância que existe entre eles e a Natureza, e nos incutindo uma sensação de mal estar que nos acompanhará até o término do filme.

Eles se encontram na Géorgia em uma região que ainda guarda uma certa parte da Natureza, quase que intocada pelo homem. Isso porém é temporário. Em curto espaço de tempo, uma represa que está sendo construída, transformará tudo em sua volta em um gigantesco lago. Eles se encontram ali, laçados que foram pela idéia de poder manter uma união apaixonada e completa com a Natureza , uma experiência que carregarão para o resto da vida e que tem de ser realizada antes que o meio ambiente se transforme. São quatro amigos: Lewis Medlock (Burt Reynold) – o autor da idéia, Ed Gentry, Bobby Tripe e Drew Ballinge, todos pertencentes a classe média americana e que guardam uma visão diferente do mundo. Drew é um idealista pacifista que toca guitarra nas horas vagas, Bobby um bom vivant pacato e sossegado, Ed um homem tímido e razoável. Já Lewis destoa completamente de todos eles, pois é extremista e apaixonado, crê-se próximo da Natureza selvagem; em resumo: brinca de ser um super-homem.

O que o filme insiste em mostrar de maneira sutil é que é impossível a união, a integração do homem com a natureza da qual se afastou faz tempo, já que o sistema insiste em não a respeitar. O contato primeiro que o quarteto tem com os habitantes do local, já serve para mostrar que o mergulho em tal ambiente não trará bons resultados. Foi um encontro cheio de reticências, no qual só foram aceitos pelo dinheiro que traziam consigo. Então eles são conduzidos até o rio, onde as canoas são colocadas na água e eles embarcam naquilo que será um pesadelo para todos (para eles e para quem assiste).

Quando dois que se encontram a frente se encontram com dois energúmenos habitantes do lugar, explode no ambiente e na tela a natureza selvagem que o homem ainda carrega dentro de si. Mas essa cena é apenas um divisor de águas no filme. A partir dela os personagens, e quem assiste, se sentirá sempre vigiado por um inimigo que se camufla na paisagem existente. E também por aquele formado pelo seu medo e consciência. É um embate entre a natureza exterior que assusta, mais ao mesmo tempo é majestosa, contra aquela que está escondida dentro de cada ser humano, tenebrosa, desconhecida, sombria e ansiosa por vir a tona (“Se você olhar dentro do abismo, o abismo olhará dentro de você” - Nietzsche).

Quando os sobreviventes dão satisfação para o delegado, sobre o que ocorreu (com os devidos ocultamentos) vemos que a população do lugar, que eles antes viam como receptível, se prepara para deixar a região, esperando que o futuro lago possa cobrir com as suas águas toda as iniqüidades que o ser humano é capaz de realizar. A única fruta podre no paraíso é o próprio homem. Filme indispensável.


Escrito por Conde Fouá Anderaos

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